quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Gravidez Ativa ou Passiva



Bem longe estão os tempos em que fazer exercício físico era algo vigorosamente desaconselhado pois estava associado por incrível que pareça, a doença. Eram os tempos do flagelo, da tuberculose, que predominava nos extratos socioeconómicos mais desfavorecidos que por sua vez forneciam o maior “contingente” de praticantes.
Graças a Deus que atualmente ninguém defende essa posição. A prática de exercício ganhou inúmeros adeptos e perdeu muito da sua conotação social negativa. Apesar de ainda existir modalidades ou tipos de atividades mais populares ou ligadas a grupos sociais com mais possibilidades em termos económicos.
Como tem sido observado ao longo dos tempos as mudanças de comportamento começam pelos grupos mais cultos ou mesmo de recursos mais relevantes. Aos olhos da sociedade leiga começa a ser clara e intuitiva a diferença entre desporto de competição e atividade física em prol da saúde, do convívio, da integração social, do contato com a natureza e por ai fora. A prática de atividade física é presentemente valorizada em termos sociais e de sucesso profissional, pois nem todos se podem dar ao luxo de incorporar a prática de exercício nos seus padrões de vida e valorizada ainda pelos seus já comprovados benefícios sobre a saúde quando feito com a devida correção.
Chega a ser inquestionável mesmo o facto de que a prática de atividade física regular é benéfica para a saúde em termos gerais. Para além de um tanto intuitiva esta afirmação é demonstrada por vários e vários artigos, estudos, alguns dos quais meta-análises que têm avaliado os efeitos da atividade física sobre a mortalidade geral, por causas específicas e sobre a morbilidade por diversas causas. A grande questão que se coloca agora é saber se estes ganhos em termos de saúde se identificam ou não com ganhos em condição física, ou se os ganhos de uma e de outra não são mais que duas consequências duma mesma causa que é a Prática de Exercício.
Quando um sedentário inicia a atividade física desencadeia um conjunto de adaptações ao esforço efetuado. Essas adaptações vão ser benéficas e vantajosas em termos de saúde, vão auxiliar na prevenção primária de variadas patologias ou então concorrer para a sua melhoria. Outras ainda vão promover o aumento da capacidade física.
O estudo das interações entre a prática de exercício e o estado de gravidez tornou-se extremamente importante não só a nível de população em geral (de mulheres claro) como também a nível de desporto de alto nível. Quer me parecer que a gravidez é algo que faz parte da normalidade da mulher em termos gerais, logo quanto mais saúde vocês tiverem melhor para o feto. Se o exercício físico feito de forma regular e corretamente administrado é essencial para uma vida saudável, o aconselhamento pré-concepcional deveria focar-se e insistir nas vantagens que isso lhe trará ao curto espaço de tempo que é a gravidez.
As adaptações fisiológicas á gravidez e ao exercício complementam-se conduzindo a uma maior proteção ao feto, uma mulher em boa forma a nível físico suporta de uma forma muito mais positiva o esforço da gestação, do parto e da amamentação.
Melhora a sua autoestima, autoconfiança, a sua capacidade de bem colaborar no trabalho de parto. Talvez por ter um maior nível de beta endorfina, parece diminuir também a sua perceção à dor.
Revisões recentes mostram que nas mulheres que continuam as suas corridas e os seus exercícios habituais durante a gestação há redução significativa de sofrimento fetal traduzido pela presença de mecónio no líquido amniótico, por alterações do ritmo cardíaco fetal ou por índice de Apgar inferior a 7 no primeiro minuto.
“O trabalho de parto é mais fácil e mais curto, evita-se o ganho excessivo de peso e diminui-se a incidência de diabetes gestacional ou melhora-se o seu controlo. A postura corporal é corrigida com diminuição das lombalgias. A melhor condição física global dá sensação de bem-estar, diminui o stress, aumenta a sensação de gravidez feliz. A recuperação pós-parto é mais fácil.”- 1989 Wolfe.
Obviamente existem normas que devem ser respeitadas pois de duas vidas se trata como por exemplo o hábito de determinado tipo de treino ou seja continuar a fazer aquilo que já fazia e não introduzir situações mais arrojadas e para as quais não está preparada, o ambiente onde decorre o exercício, intensidade excessiva que pode levar a hipertermia materna, os esforços muito violentos ou prolongados, etc.
Como em tudo na vida o bom senso tem que prevalecer, toda a progressão deve ser muito gradual, devem ser proscritas todas as formas de exercício que possam originar manobra de Valsava devido ao seu risco expulsivo. É claro importante também o estado de nutrição e hidratação para evitar o risco de hipoglicémia e desidratação durante os treinos.
O acompanhamento por parte do profissional de exercício é de extrema importância, tanto na fase da elaboração como nos momentos de execução de um plano de treino adequado e adaptado.
O American College of Sport Medicine está empenhado em melhorar o papel e a influência dos cuidados de saúde na promoção da atividade física regular e implementação da ferramenta PAVS para avaliar a atividade física durante a gravidez.
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Perante estas e outras evidências sobre a gravidez e a prática de exercício qual ou mesmo quais serão as razões que levam ainda alguns obstetras a não aconselharem exercício físico às suas pacientes privando-as de algo que a ciência já comprovou e aprovou. Já era tempo de retirarem as palas e alargarem os horizontes com uma visão mais periférica em função do melhor para a mulher e consequentemente o feto.
Mas que posso eu fazer quanto a isso? Sou apenas um instrutor de ginásio e eles, bem, eles são os Obstetras.

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